Sufocados!


Ele podia ter dito o quanto a achava doce e delicada, ela podia ter dito a ele o quanto seu sorriso a fazia tremer. Ele podia ter contado que com ela sonhava todas as noites, mas preferiu ficar em silêncio. Ela podia ter lhe contado o quanto o desejava por uma semana, um mês, um ano, uma vida, mas também ficou em silêncio.  Ele podia contar que por dentro pulava de alegria quando ela lhe dirigia um olhar, e mais uma vez se calou. Ela podia ter lhe dito que sentia seu perfume no ar, mesmo sem ter ninguém por perto, que seu nome estava em todas as folhas de sua agenda, e suas fotos se encontravam agora espalhadas por todo o seu quarto, mas quando abriu a boca pra dizer, se calou. Ele podia ter lhe dito que às vezes jogava Mário novamente, só pra ter a sensação de estar a salvando dos perigos do mundo, os perigos que podiam a cercar, ele podia ter dito a ela que queria ser seu príncipe, e também se calou. Ele podia ter dito a ela que seus gols no futebol eram todos dedicados a ela, que ele olhava pra arquibancada querendo apontar pra ela e dar aquele sorriso encantador que ele não sabia, mais ela amava. E ao invés disso, ele se calava. Ela o olhava da arquibancada esperando por alguma atitude, uma expressão que pudesse de alguma forma lhe dar esperanças, mais isso nunca aconteceu. Doía dentro de ele imagina-la e não tela. Ele a desejava por completo, queria poder tela em seus braços sempre, queria sentir seu aroma doce, seu jeito delicado e angelical, bem perto de ti em todos os momentos que fossem possíveis. Mais ele não a tinha. Ela queria ser dele, queria poder estar em seus braços em todas as horas, enfrentar o mundo juntos, todas as barreiras e os desafios que viessem. Ela queria poder assistir aos seus jogos de futebol com as amigas do lado e poder dizer: olha, aquele é meu amor! Como qualquer uma ela sonhava com o dia em que iriam ao cinema de mãos dadas, assistiriam a qualquer filme, pois o que importaria era a presença dele ali. Mas não era assim que funcionava. Ela ia ao cinema sim, só que sozinha. Ele ia aos seus jogos, mas não a via.  Ela passava a lhe evitar, pois dentro de si tinha que não o conseguiria nunca. Ele se afastou, já não via mais o sorriso de sua princesa, não sentia seu perfume nem seu jeito angelical. Ela deixou de ir aos jogos, deixou de ir ao cinema, pois se lembrava dele. Certas musicas apagou, eram fortes lembranças. Lembram-se das fotos? Ela rasgou. Sua agenda? Ela queimou. O que ele fez com seus jogos do Mario? Onde imaginava sua vida de príncipe e princesa com ela, seu único amor. Ele deu para seu irmão mais novo, para que tivesse uma infância completa. E no final os dois morreram de uma forma óbvia, sufocados, pelas palavras não ditas, eles morreram sufocados pelo próprio silêncio. APMG!

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