Amélia.

Amélia era doce, doce que nem mel, Amélia era feliz, ou ao menos aparentava ser. Amélia vivia sorrindo e gargalhando, fazia da sua vida um verdadeiro show de circo, onde tudo para ela seria eternamente um conto de fada. Tinha tudo quando queria e se quisesse. Tinha a todos, mas ao mesmo tempo não tinha nada. Amigos, família, dinheiro, mas havia algo que o dinheiro não comprava. Amélia andava de carro pra cima e pra baixo, tomava verdadeiros banhos de lojas em shoppings, saia com as amigas todos os fins de semana, mas não era o bastante. Amélia não era feliz. Tarde da noite, todos os dias, Amélia se trancava em seu quarto e enxia a cara, depois virava a noite no seu sanitário aliviando os enjoos causados pela bebida. Shiu, segredo, Amélia me mataria se soubesse que lhes contei. Quando ninguém a via Amélia fazia tanta coisa. Nas noitadas, beber até cair era seu lema. A princesinha perdia a coroa todas as noites. Seu quarto todo pintado à mão, com muitos detalhes, era a única testemunha do verdadeiro eu de Amélia. Bebidas e mais bebidas, misturadas com lágrimas que desciam do rosto de Amélia varias vezes, até que mais tarde, ela adormecia.
Adormecia então abraçada com a foto do bendito cujo que era o motivo de suas lágrimas, o motivo pelo qual ela perdia a coroa de princesa todas as noites. Amélia sofria de uma dor sem igual, Amélia sofria de uma doença sem cura, Amélia sofria de amor não correspondido.
Todos os dias de sua vida Amélia colocava um sorriso em seu rosto e fingia para o mundo que tudo estava perfeitamente bem, mas na verdade, dentro de si, tudo estava uma bagunça, desorganizado, da mesma forma que ele a deixou.
A vida de Amélia caiu nessa rotina enjoada, sorriso falso pelo dia, alegando tamanha felicidade que ninguém sabia da onde existia, e anoite, afogando as mágoas em várias e várias garrafas de bebidas. Dormindo sempre abraçada com a foto do infeliz que destruíra sua vida. Apesar de todo o mal que ele havia lhe causado, ela nunca conseguira deixar de lhe amar, da mesma forma como alguém ama chocolate.
Porém, em mais uma noite dessas qualquer, uma noite de lua cheia e brilhante, Amélia viu o espelho refletir uma aparência caótica, e jamais imaginou que chegaria aquele estado. Triplicou a quantidade de bebidas e da última que coisa que se lembra, foi de alguém entrando pelo quarto dizendo: “Me perdoe, eu te amo Amélia” e ela respondendo da forma que podia: “Pena que agora é tarde demais”. Antes que batesse com a cabeça no chão altamente frio, daquela noite de lua cheia gelada, para nunca mais acordar.

Quando se lembrares de quem realmente te ama, pode ser tarde demais. Mas cuidado para não entrar num mundo de ilusões, e se esquecer de viver. 

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