Pequena Andy.

Espero que um dia,tal amor que já senti lhe tome por inteiro,e que você conheça o amor nas mais belas formas possíveis. Mais um dia se inicia, o sol que nasce lá ao longe ilumina essa pequena cidade.As arvores de grande porte me encantam,posso lhes dizer que a paz que elas transmitem é incrível. Tenho que levantar de minha cama, o sol já atinge meus olhos, busco forças para iniciar um novo dia, não encontro,mas meu tempo corre,tudo bem,já vou levantar. Prometi que hoje não me atrasarei para o trabalho, por isso engulo meu café rapidamente sem nem sentir o gosto, arrumo meu cabelo de forma com que pareça apresentável á sociedade. Ok, cinco minutos atrasado. Amanha não me atrasarei. Saio de casa para mais um dia de trabalho, a vida na cidade não mudou nada de ontem para hoje. Seu Zé, ás 08h15min da manhã, já gritava que o melhor cachorro-quente da cidade estava aberto. Ouvia-se ao longe uma criança histérica aos prantos implorando para sua mãe que lhe desse sorvete de baunilha, pobre coitada dessa mulher. Sentada num banco na praça, uma garota com seu violão cantarolava um trecho de Clarice Falcão: ”Quando eu te vi fechar a porta eu pensei em me atirar pela janela do 8ª andar, invés disso eu dei a maia volta e comi uma torta inteira de amora no jantar”. Ela tem futuro-pensei comigo. Estava quase chegando ao meu trabalho quando se aproxima de mim uma garotinha, aparentava ter uns cinco ou seis anos. Cabelos negros e compridos, que quase lhe atingia a bunda. Sorria de uma maneira tão doce e angelical que fez meu coração derreter. Aos poucos ela foi se aproximando de mim, e quando finalmente quase já se encostava, ela se pôs a falar: -Bom dia senhor, eu estou vendendo biscoitos para ajudar minha escola, será que o senhor poderia comprar alguns? Confesso que na hora me senti nas nuvens. A garotinha tinha uma voz linda, doce, tranquila e mansa, não conseguiria lhe dizer não. -Claro que sim pequena, pode me dar sete caixas das que tem ai. Com um brilho nos olhos que não pude deixar de notar, soube que a garota ficara completamente feliz com um pedido de tantas caixas assim. Recolhi as caixas que ela deixara no chão e a vi partir, correndo em direção a outras pessoas para tentar mais uma vez vender seus doces. Agora estava pensando o que iria fazer com tantos doces, eu na verdade não comia doces fazia tempo. Bom, acho que darei alguns no trabalho. Céus, o escritório. Bom, o que posso dizer a vocês sobre meu trabalho é que não existe nada de emocionante, meus colegas de serviço são bacanas, mas o trabalho em si não é nem de longe o melhor ou o mais agradável do mundo. Tinha o Lucio, um dos mais velhos do escritório, quarenta e cinco anos, casado e bem de vida, extremamente atencioso e simpático. O Carlos era um dos novatos assim como eu. Faz muito o estilo daqueles que fazem tudo para agradar, mas é extremamente desajeitado, vive deixando as coisas caírem para lá e para cá, mesmo assim, gostamos muito dele. O chefe, o senhor Olavo passava a maior parte do tempo fora, viajando a trabalho, em reuniões, resolvendo problemas, ou simplesmente porque não gostava de passar o tempo ali, acredite, eu o entendia muito bem. Logo quando entrei no escritório, sai distribuindo meus doces mesa atrás de mesa, jamais conseguiria comer tantos doces quanto os que tinham em minhas caixas nem que elas ficassem em minha casa por meses. Quando cheguei à mesa de Lucio, a ultima do escritório, ouvi a porta da frente se abrir, e por ela entrar uma bela moça, não sei distinguir bem se era uma bela jovem ou então uma moça adulta, só sei que sua beleza me encantou. Pele bronzeada bem de levinho, cabelos lisos que desciam por suas costas e quando o vento batia os fazia balançar de forma graciosa. Seus olhos brilhavam intensamente e seu sorriso era a forma mais graciosa de seu corpo. Encantei-me. Ela se apresentou como Charlotte, a nova contratada do escritório, me apressaram a indicar onde seria seu local de trabalho e claro, lhe dar algumas dicas das quais iria muito precisar. Digamos que fico meio nervoso na presença de mulheres tão bonitas quanto Charlotte, mas tento dar o máximo de mim para não cometer nenhum erro grave. Entreguei-lhe um dos doces que havia comprado, pois ela parecia estar bem interessada neles, após agradecer devidamente, dirigiu-se até sua mesa e começou seu trabalho partindo do ponto que lhe indiquei. O dia seguiu da mesma forma que os outros, além de Charlotte, não havia nada de novo ou diferente no escritório, quando dei por mim já haviam se passado muitos minutos do meu horário de saída e só restávamos apenas eu e Charlotte no escritório. Ela também não parecia se dar conta de que horas já eram, pois não desgrudava os olhos do seu monitor um segundo se quer. Resolvi alerta-la. -Charlotte? Nosso horário já passou, na verdade a hora de sair era há vinte minutos. Sua boca se abriu e ela começou a arrumar sua bolsa apressadamente. -Oh meu Deus, estou vinte minutos atrasada! Tinha que ter pegado minha filha na escola há exatos vinte minutos, sua baba ligou avisando que não poderia fazer isso hoje. -Fique tranquila-disse tentando parecer calmo para acalma-la também-ligue para a escola e avise que já vai chegar. Vou chamar um táxi, passamos na escola para pegar sua filha, e o táxi deixa nos dois em casa. Tudo bem para você? -Ok, por mim tudo ótimo, farei isso. Liguei para o táxi mais próximo o mais rápido que pude, Charlotte parecia realmente preocupada, mal a conhecia e já tinha visto seu rosto mudar de cor umas cinco vezes. Com o táxi chegamos à escola em questão de cinco minutos, após vários gritos com o motorista para que ele acelerasse o máximo que ele conseguisse. Chegamos à porta da escola e lá estava ela. Só que espere um minuto, a filha de Charlotte era a garotinha quem eu ajudara essa manhã, a garotinha da qual eu tinha comprado tantos doces. Logo que entrou no táxi a garotinha me fitou nos olhos e com toda a doçura disse: -O que o senhor faz aqui? Charlotte nos olhou espantados, sem dizer nada e ao mesmo tempo perguntando da onde é que nos conhecíamos. -Sua mãe e eu estamos trabalhando no mesmo escritório, então pegamos um táxi juntos e viemos lhe buscar. -Mamãe, ele também comprou meus doces hoje de manhã logo depois que a senhora me deixou com Sandy. (Mais tarde descubro que Sandy era a baba de... espera, ainda não sei o nome dela) -Andy querida, que bom que esta conseguindo vender seus doces. Bom este é o senhor... (Ah sim, Andy) -Bom, eu me chamo Richard. Que estranho, passamos o dia todo trabalhando e nem disse meu nome. Prazer. Bom, acho que agora podemos ir para casa. -Mamãe- a pequena Andy me interrompeu- quero muito tomar um milk-shake. Charlotte suspirou, como se pega-la atrasada na escola já não fosse castigo o bastante. -Hoje não pequena Andy, amanha lhe comprarei um milk-shake delicioso. -Mas mamãe, eu quero agora, amanhã posso não estar mais com vontade. Por favor, mamãe, por favor. Percebendo o mesmo dilema que vi durante a manhã, da garotinha que gritava com a mãe pelo sorvete de baunilha, me meti no meio, e disse que no meio do caminho iriamos parar para comprar sorvete para Andy, que ao ouvir isso abriu um imenso sorriso, o mesmo pelo qual me apaixonei esta manhã. Depois de levar Andy para tomar sorvete e deixa-las em casa, finalmente pude chegar até minha casa também e descansar meu corpo em minha cama depois de um longo e exaustivo dia de trabalho. Tomei um relaxante e longo banho e pensei que logo cairia na cama e apagaria. Pelo contrário. Mil coisas começaram a surgir em meu pensamento. O quanto aquele dia tinha sido agradavelmente bonito. Conhecer Charlotte e Andy me fez sentir renovado, tão cheio de energia e vida, que há muito tempo não sentia. Quando dei por mim, havia adormecido. Os dias no escritório que se seguiram continuaram a mesma coisa, a não ser pela notável presença de Charlotte no recinto. Na verdade era quase impossível não notar tamanha beleza em um só lugar. Com o passar dos dias fomos nos tornando muito próximos, sempre que precisava de ajuda com algo do trabalho ela ia até minha mesa ver o que podia ser feito. Contava-me um pouco de sua vida todos os dias no horário de almoço. Quando descobri que era mãe solteira confesso que senti uma pontinha de esperança. Bom, é difícil admitir, mas em pouco tempo tinha me sentido atraído por ela, afinal, quem não se sentiria? Mas Charlotte parecia não notar, ou sabia fingir muito bem que não notara, e tinha também o fato de que ela parecia não sentir o mesmo que eu. Nenhuma pontinha de atração por mim. Como ela disse várias vezes, adorava minha companhia e adorava conversar comigo, pois eu era um bom ouvinte. Às vezes essas coisas me atingiam em cheio, como um soco no peito, mas relevava, afinal, ninguém é obrigado a gostar de ninguém, muito menos de uma hora pra outra. Algumas semanas depois, Charlotte chegou ao mesmo horário de sempre no serviço, só que ao invés de ir direto para sua mesa, ela veio até a minha. Devo contar que deixei de me atrasar, irônico não? Enfim, Charlotte se aproximou de mim, deu seu cotidiano bom dia com aquele sorriso maravilho de oito e meia da manhã e se pôs a falar. -Ontem a noite estava com Andy assistindo a um filme, e ela perguntou por você. Achei estranho porque já faz certo tempo desde a ultima vez que vocês se viram, mas ela se lembra bem de você, e me perguntou se o tio Ri, como ela lhe chamou, não poderia leva-la para tomar outro sorvete qualquer dia desses. Prometi que veria com você. Confesso que quando Charlotte falou de Andy pude sentir meus olhos marejarem. A pequena Andy me vira apenas duas vezes e além de se lembrar de mim ainda queria sair novamente comigo. Ok tenho que confessar que tenho um fraco por crianças, sou completamente apaixonado por elas. Novamente não podia dizer um não. -Certamente. Hoje à noite? –Disse tentando conter um pouco da ansiedade. -Certo. Hoje à noite. Ligarei para a baba dela para que a deixe arrumada. Naquela noite levei Andy para tomar sorvete. Além disso, fomos ao parque, vimos alguns animais que depois descobri que Andy não gostava muito. Em certo momento lhe deu fome, pude ouvir seu estômago roncar, perguntei o que ela queria comer, e sem pensar ela disse pizza com batatas fritas tio Ri. E fomos à pizzaria comer o que ela queria. Ela me contou um bocado de coisas sobre ela. O quanto ela gostava de alguns desenhos animados, mas preferia livros com figuras. Perguntei se ela gostava de bonecas, mas ela balançou a cabeça em sinal negativo. Confesso, assustei-me com isso. Ela amava ver filmes de dragões bonitinhos, assim foi como ela me descreveu. Prometi que um dia lhe daria algo sobre dragões que ela pudesse gostar. Ela sorriu gentilmente e retornou a suas batatas. Quando dei por mim já era tarde, então resolvi deixa-la em casa, apesar de estar amando sua companhia. No outro dia no escritório Charlotte me contou o quanto Andy falara de mim até tarde da noite, pois ela jamais dormia cedo e sempre achava um assunto para conversar. As semanas foram se passando e as saídas com Andy se tornaram frequentes. Alguma poucas vezes Charlotte nos acompanhava, mas na maioria das vezes éramos somente eu e Andy. Algumas semanas após começar a levar Andy para passear, descobri que Charlotte estava saindo com alguém. Descobri também que essa pessoa não era muito boa nem de confiança, resolvi então conversar com Charlotte, já éramos muito íntimos, achei que tinha esse direito. Enganei-me. -Mas Charlotte, estou falando para seu bem. Eu sei o que ouvi a respeito dele, ele não vale o ar que respira, acredite em mim. -Richard, cale-se, por favor, fique quieto. Não me importa o que você tenha ouvido dele, me importa somente o que vivo com ele. Você não tem que se meter em minha vida, você não é nada meu, não é nada de minha filha, por favor, suma agora. Nesse momento senti que o peso dos céus caía sobre meu ombro. O modo como Charlotte mandara sumir da sua vida, como dissera que eu não era nada para ela nem para Andy, aquilo partira meu coração em pedaços incontáveis. Foi quando Andy apareceu na porta da sala. -Mamãe, porque a senhora esta gritando com o papai? Papai... Espere ai, eu ouvi direito? Andy acabava de me chamar de... Papai? Não pude deixar de sorrir. Charlotte pareceu tão desnorteada quanto eu, pois nesse momento sua boca se abriu e nenhum som ela conseguiu emitir. Foi quando ela caiu no choro. Charlotte chorava como se não houvesse amanhã. Andy correra para meus braços e também não pude conter as lágrimas quando senti o abraço forte de minha pequena. Depois de se acalmar, Charlotte resolveu repensar sobre o que eu dissera, mas avisou-me que não teríamos nada, pois ela, por mais que gostasse de mim não conseguia sentir o mesmo que eu sentia por ela. Doeu? Muito. Mas eu ainda a teria por perto, e tinha Andy também, que agora, era meu maior e mais precioso tesouro. Meses e mais meses se passaram desde que Andy entrou em minha vida. Posso afirmar a quem for que não existe amor maior no mundo do que o de uma garotinha de seis anos. Mesmo que ela não diga o tempo todo que te ama, mas ela transmite pelo olhar, pelos gestos e atitudes o tempo todo. Por querer sua presença, por te aceitar como você é ela já prova todo seu amor. Claro que não são só amores, existem tapas, brigas, aprendi a dizer os famosos “nãos” que antes eram praticamente impossíveis. Aprendi a resistir aos olhinhos brilhantes daquela pequena, mas acima de tudo, aprendi a ama-la cada dia mais. Sei que não existe nenhuma ligação sanguínea que nos uma, mas meu amor por ela transborda de meu peito, e sei que assim vai ser por muito tempo, se Deus permitir. Irei cuidar de meu anjo, pois sei que é isso que ela é em minha vida. Um verdadeiro anjo. -Papai, venha, o almoço está pronto. Bem, por falar em anjo, acho que tem alguém me chamando para almoçar. Com todo o amor do mundo, Richard. “Descobri que as experiências mais significativas de nossa vida raramente ocorrem quando as esperamos, e muito frequentemente quando nem sequer estamos prestando atenção.” Diário de Beth Cardall (A Promessa)

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